Escrito pelo Dr. Tomás Filipe Pellegrini – CEO Medlink
A digitalização e virtualização de diversos serviços, processos e até das relações humanas não é uma novidade. Iniciada com o surgimento da internet, foram proliferadas há cerca de uma década com a popularização dos smartphones e viralizaram junto com a pandemia da COVID-19. Ainda que a área da saúde necessite de uma série de formalizações, essa tendência também se dissemina nesse meio e a sua aderência poderá ser muito benéfica para a sociedade, bem como para o profissional de saúde. É necessário, no entanto, que a ética médica e o bom senso sejam explorados dentro desse tema, assim como a adaptação no mindset dos profissionais e instituições de saúde para acomodar, de forma positiva, a tecnologia.
Quando falamos em uma clínica ou serviço de assistência à saúde eficiente, entendemos que, por trás da entrega de valor para o paciente, existem variados processos que vão além do momento de consulta médica, envolvendo diversos profissionais, como: secretária, médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, exames, medicações, etc. Neste sentido, surge o conceito de Clínica Virtual, isto é, uma ferramenta que, por meio da tecnologia e, em especial, da internet, é capaz de oferecer um ambiente virtual que facilita e engrena esses processos e possibilita o atendimento a qualquer hora e em qualquer lugar.
Neste aspecto, quatro pontos podem ser muito promissores:
- Teleatendimento, Tele Reavaliação e Telemonitoramento
- Prescrição digital de medicações e solicitação de exames
- Prontuário eletrônico integrado e multidisciplinar
- Interface do Paciente para centralização de dados, tutoria e engajamento no cuidado
O primeiro desses pontos diz respeito ao teleatendimento. Essa modalidade de consulta é referente a superficialidade do contato, assim como a falta de um exame físico, etapa essencial à propedêutica médica tradicional. Todavia, poucos se lembram de que, no fundo, já existe teleconsulta desde os tempos de Grahan Bell. Um exemplo disso são as ligações recebidas por pediatras, a qualquer hora do dia, de mães preocupadas com seu filho. Parece evidente que, neste contexto, formalizar o teleatendimento e garantir uma forma de remuneração seja vantajoso para todos. E já sabemos que uma comunicação efetiva gera engajamento dos pacientes, melhores desfechos clínicos, alívio de sofrimento e melhor satisfação.
As técnicas de comunicação adequada podem, e devem, ser aplicadas ao ambiente online, cuja grande vantagem é remover barreiras e aproximar as pessoas.
Obviamente que de nada vale um teleatendimento se não formos capazes de prescrever e orientar, além de registrar formalmente os dados deste atendimento. Neste aspecto, entram o segundo e terceiro pontos promissores – prescrição digital e solicitação de exames online. Com uma prescrição digital, possibilitamos que o profissional da saúde indique tratamentos medicamentosos e exames com a segurança de certificação digital que, certamente, é mais segura do que um carimbo com um rabisco na folha de papel. É certo que isso pode ser usado não só em teleconsultas, bem como em um ambiente físico, seja no consultório, coworking, visita à beira leito ou atendimento domiciliar.
Explorando melhor o terceiro ponto, o prontuário eletrônico integrado e multidisciplinar, observaríamos uma grande vantagem para o sistema se o registro das informações fossem integrados em um ambiente de nuvem. Este processo permitiria que toda a equipe de tratamento tivesse acesso às informações, determinando um entrelaçamento dos planejamentos terapêuticos multidisciplinares. Para que isso aconteça de uma forma eficiente, duas questões são necessárias. Primeiro, que os grupos de trabalho multidisciplinares de uma mesma clínica compartilhem uma tela de atendimento e não somente um sistema de registro dos dados. Quando todos que fazem parte do cuidado, dividem essa informação em uma única tela, o que torna mais fácil o estabelecimento de uma comunicação efetiva e, com isso, garante linearidade no cuidado. A segunda questão é que essa informação produzida pelos grupos de trabalhos ou clínicas deveriam ficar centralizada no paciente, de tal forma que outros grupos de trabalho possam acessá-la, mediante autorização das partes envolvidas.
Neste aspecto, a interface do paciente, e quarto ponto promissor, torna-se uma solução pois, além de servir como repertório para os dados, é um canal de comunicação do paciente com as equipes, seja para resgate de orientações terapêuticas, de consultas ou exames anteriores. Além disso, essa interface poderia servir para munir o paciente de informações sobre suas patologias, assim como ajudá-lo na tutoria do cuidado e, ainda, introduzi-lo em linhas de cuidado virtuais.
A partir de um sistema de workflow de registro de dados em formato de rede social, a Medlink Tecnologia criou a verdadeira Clínica Virtual, unindo de forma eficiente esses quatro pontos abordados em um ecossistema seguro, cuja interface profissional funciona por grupos de trabalho que compartilham telas de atendimento. Estas contêm campos especiais, os quais migram as informações selecionadas para a interface web app do paciente. Com esta plataforma, esperamos oferecer para os profissionais da saúde a possibilidade de melhorar a relação com seus pacientes e, ao mesmo tempo, engajá-los no cuidado e na prevenção à saúde, melhorando a fidelização e o resultado dos tratamentos.
Ao utilizarmos clínicas virtuais para o cuidado, facilitamos muito a criação de grupos de trabalho multidisciplinares, já que estes não precisam estar no mesmo ambiente físico para interagirem. Além disso, a mobilidade da nuvem permite que esse atendimento aconteça a qualquer hora e em qualquer lugar, de forma segura e formalizada. Vale ressaltar que clínicas virtuais otimizam recursos, já que processos de agendamento, atendimento e faturamento podem ser automatizados ou contratados sob demanda. Além disso, não há a necessidade de um ambiente físico enorme, que muitas vezes fica ocioso, onerando o sistema e consumindo valor da assistência. No final, sobra mais tempo para os protagonistas: o profissional da saúde e o paciente.
Vivemos um momento de revolução e estamos na fase de transição. Não basta termos os meios, teremos que quebrar muitos paradigmas para conseguirmos dar o próximo passo no caminho da humanidade. Cabe a nós, profissionais da saúde, entendermos e adaptarmos a nossa arte a essa nova realidade. Não há dúvidas de que, com a pandemia, este processo atingiu um ponto crítico, sem volta, e não aderir à virtualização social significará ficar fora do mercado de trabalho e das ideias e desejos da sociedade do século XXI. Já que não há volta, acreditamos que a tecnologia possa se incorporar a medicina tradicional, resgatando os valores da relação médico-paciente. Além disso, esperamos nos utilizar da construção desses dados para melhorar os processos de decisão terapêutica, experiência dos pacientes no cuidado e desenvolvimento de soluções que beneficiem a sociedade, tornando o trabalho do profissional da saúde mais valioso.